Novidades

Depressão pós-parto não é frescura

A depressão, ou transtorno depressivo, é, atualmente, considerada um sério problema de saúde pública. Aliás, trata-se da quarta causa entre os problemas de saúde mais urgentes do mundo. Além disso, é um distúrbio que chega a atingir em torno de 20% das mulheres.

A depressão pode apresentar vários sintomas ou quase nenhum, dependendo da intensidade do adoecimento. Provoca desde queda da energia, baixa autoestima, redução da memória, visão pessimista do futuro, até pensamentos de morte ou suicídio. Ainda atua sobre outros aspectos da vida do paciente, como, por exemplo, na qualidade do sono.

Entendendo a depressão pós-parto

A Dra. Eliane Espíndola, ginecologista e obstetra do Mater Dei Santa Genoveva, faz uma análise bem clara do problema. Segundo a médica, a depressão pós-parto, que inicialmente era considerada apenas um estado pós-parto, vem assumindo outras características. Antes identificada exclusivamente no período após a mulher ter dado à luz, agora é vista de maneira mais ampla. Dessa maneira, como não atinge somente a mulher na fase puérpera, foi dividida em depressão periparto e depressão pós-parto.

Sem dúvida, esse transtorno psiquiátrico pode apresentar sintomas anteriores à gravidez, durante o pré-natal e no período pós-parto. “Outra ideia que se tinha era em relação à mulher com alguma predisposição à depressão. Pensava-se que, quando engravidasse, a gravidez poderia ser um fator positivo para melhorar esse sintoma”, lembra a obstetra.

Revendo a extensão do transtorno

No entanto, segundo a médica, hoje entende-se que não é bem assim. Pelo contrário, para a mulher que apresenta sintomas depressivos anteriores à gestação, o risco é maior. Configura-se, aliás, uma tendência até mais acentuada a apresentar uma depressão periparto ou pós-parto.

Sendo assim, essa condição pode ser catalogada como uma depressão perinatal. Segundo a Dra. Eliane, “estamos falando daquela grávida que tem mais tendência ao choro, mais sintomas, que é mais poliqueixosa. Ela pode apresentar, por exemplo, distúrbios de alimentação e hiperemese, que são aqueles vômitos incontroláveis na gravidez”.

Esses sinais podem ter uma ligação, tanto com a depressão periparto, quanto com a pós-parto. Uma boa observação clínica é, portanto, muito importante para fechar o diagnóstico da paciente. Sobretudo, porque a precisão de um diagnóstico conduz a um tratamento mais eficaz e adequado.

A depressão pós-parto pode evoluir para uma psicose puerperal

Na verdade, mesmo um simples sintoma de tristeza pode passar para algo que caminha realmente para um estado depressivo. Mais ainda, pode atingir até um quadro de psicose puerperal. Nesse estágio pode haver, inclusive, tentativa de autoextermínio e casos graves de rejeição ou mesmo de agressão ao bebê.

A psicose puerperal, que é mais rara e grave, pode se apresentar de modo súbito, abrupto e imediatamente no pós-parto. A puérpera pode, então, passar da euforia a um quadro disfórico, depressivo, com irritabilidade, desorganização dos pensamentos e alucinações.

Como se trata de um quadro extremamente severo, requer um diagnóstico rápido e imediato. Muitas vezes o afastamento dessa mãe é necessário, pois, nesse estado, ela pode comprometer a integridade física do bebê. Ao mesmo tempo, a própria mulher também pode apresentar risco de tentativa de autoextermínio e pensamentos suicidas. Logo, esses transtornos dependem da intensidade do diagnóstico para a abordagem terapêutica.

Causas da depressão pós-parto

Existem vários fatores que podem provocar a depressão pós-parto e periparto. São múltiplas as causas, que se assemelham às causas da depressão no dia a dia, como:

  • Uma gravidez indesejada;
  • Uma gravidez pouco planejada;
  • A condição marital do casal;
  • A situação socioeconômica do casal naquele momento;
  • Fatores que levam ao estresse, como problemas no trabalho;
  • A história de vida da paciente;
  • Histórico prévio de depressão grave ou de depressão recorrente;
  • Aceitação da gravidez pela família.

Além disso, existem fatores adicionais a considerar, como outros diagnósticos, isto é, casos de transtornos bipolar ou depressivo, por exemplo. Os sintomas podem ter uma intensidade variada, sendo que a avaliação e o diagnóstico são clínicos.

Sintomas e intensidade

A depressão pós-parto chega a uma incidência em torno de 10 a 15% das puérperas, e é um diagnóstico que é feito clinicamente. Geralmente vem de uma maneira silenciosa e lenta, a partir do primeiro, ou final do primeiro, trimestre da gravidez. “Então, na anamnese do pré-natal, é muito importante avaliar a história pregressa de depressão na vida da paciente”, alerta a Dra. Eliane.

Devem ser avaliados os sintomas maiores e menores, assim como a sua intensidade, observando que muitos atingem todas as gestantes. Existe, por exemplo, a síndrome de tristeza no pós-parto, também chamada de blues pós-parto. Contudo, trata-se de um quadro muito comum, autolimitado, que geralmente se resolve sozinho. Sua prevalência pode atingir até 85% das puérperas, pela própria situação vivenciada no pós-parto. Afinal, há a novidade de cuidar do bebê, o cansaço, o desencadeamento da gravidez e a própria vivência do parto.

Diagnóstico e tratamento da depressão pós-parto

Dependendo do quadro, pode ser necessário um acompanhamento mais próximo da gestante ou da puérpera, com tratamento multiprofissional. Nesse processo, em primeiro lugar, a avaliação e o diagnóstico do obstetra são importantíssimos. Na sequência, envolve uma perspectiva da equipe, que pode incluir terapia, abordagem psicológica, e, conforme o caso, psiquiátrica. Nos quadros mais severos há necessidade de uso de medicamentos.

Quando a depressão pós-parto caminha para uma psicose puerperal, que é um quadro psiquiátrico gravíssimo, a intervenção deve ser certeira. Dessa maneira, o tratamento deve, inclusive, envolver terapia medicamentosa, porque foca na proteção à puérpera e ao bebê. Essa abordagem deve ser, certamente, mais incisiva, com antidepressivos, avaliando, ainda, o risco e benefício da amamentação.

A depressão pós-parto é um sério problema de saúde pública

Geralmente, muitos dos quadros de depressão pós-parto são subdiagnosticados ou subnotificados. Entretanto, o diagnóstico é fundamental para o tratamento e seu prognóstico, ou seja, a maneira como vai evoluir.

Então, é importante observar os pequenos sinais, assim como os de intensidade moderada, e, principalmente, os acentuados, durante o pré-natal. Isso porque, quando a gestante apresenta esses indícios na avaliação clínica, pode receber um diagnóstico precoce e um tratamento adequado.

Finalmente, a médica recomenda uma parceria com o futuro pediatra do bebê. Do mesmo modo aconselha envolver também a equipe, os familiares e o companheiro da gestante ou um familiar mais próximo. “Portanto, deve-se criar uma rede de monitoramento para minimizar, ao máximo, as dificuldades pelas quais essa gestante pode passar”, finaliza.

Dra. Eliane Espíndola é ginecologista e obstetra do Mater Dei Santa Genoveva, um dos mais completos hospitais da região.

Compartilhar