Novidades

Nutrólogo do Hospital Santa Genoveva publica artigo inédito em revista internacional

O estudo apresenta um protocolo de nutrição para pacientes com Covid-19 graves e será apresentado em congresso europeu

Um estudo sobre a terapia nutricional para pacientes com Covid-19 grave em posição prona, conduzido pelo médico nutrólogo e coordenador clínico da Equipe Multiprofissional de Terapia Nutricional do Santa Genoveva Complexo Hospitalar, Cláudio Barbosa será apresentado no próximo congresso da Sociedade Europeia de Nutrição Parenteral, Enteral e Metabolismo (ESPEN)- a ser realizado de forma virtual entre os dias 9 e 14 de setembro – e publicado na revista científica Clinical Nutrition.

De acordo com o Dr. Barbosa, trata-se de um protocolo, desenvolvido com a colaboração de da força-tarefa das UTIs dos hospitais Santa Genoveva e Madrecor de Uberlândia e Mário Palmério (Uberaba-MG), inédito e baseado no mundo real, no sentido de evitar que o paciente fique em jejum, desnutrindo gravemente. Isso é muito relevante uma vez que a Covid-19, na história médica, é a doença mais catabólica, podendo desnutrir e emagrecer severamente o paciente. “O estudo foi realizado através do trabalho das equipes multiprofissionais das força-tarefa de três hospitais onde coordenamos a terapia nutricional que atendem os pacientes mais graves. Tudo foi desenvolvido à beira leito, na medida que percebíamos a dificuldade imensa em nutrir os pacientes mais graves com Covid-19, principalmente na primeira e segunda onda, quando os pacientes eram mais idosos e obesos”, explica o médico. “No início, tudo era feito seguindo as diretrizes das sociedades Americana e Europeia publicados no 1º trimestre de 2020. Nós então melhoramos essas recomendações porque se baseavam em estudos pré pandemia, não sendo possível obter-se um consenso com poucos meses de uma doença absolutamente nova. Nosso Protocolo possui, por isso, originalidade e foi aceito para publicação na revista e apresentação no congresso”, conclui.

O protocolo refere-se especificamente ao paciente que precisa ficar de “barriga para baixo”, na posição prona, para serem ventilados e respirem melhor. Seja no paciente consciente, que é a prona permissiva, ou no paciente sedado, sob ventilação mecânica, intubado. “Em geral, quando o paciente fica nesta posição dificulta muito a alimentação e a posição prona é preconizada em torno de 18 horas, ou seja, o paciente precisa ficar na posição durante todo esse período de tempo para produzir uma melhora na saturação parcial de oxigênio” explica Dr. Barbosa. Esta recomendação era para casos de pneumonias graves, anteriores à pandemia, mas na Covid-19 se percebeu que a necessidade de prona é muito maior, mais prolongada e mais frequente porque os pacientes oxigenam muito mal e ficam muito hipoxêmicos, com falta de oxigênio no sangue, já que o pulmão inflamado e trombosado não consegue captar esse oxigênio do ar ou do aparelho de ventilação mecânica.

Segundo Dr. Barbosa, as recomendações anteriores diziam que era seguro ligar a dieta pela sonda que entra pelo nariz do paciente e vai até o estômago ou intestino (nasogástrica ou nasoentérica) sem a dieta voltar pela boca e ir para o pulmão provocando uma pneumonite química grave. “Só que na prática não foi isso que as equipes vivenciaram. Mesmo que a cabeceira do leito do paciente pronado fosse elevada (a chamada posição de Trendelemburg reversa), os intensivistas e enfermeiros começaram a nos relatar que a dieta estava voltando pela boca do paciente, elevando o risco de que o paciente engolisse novamente o alimento, caísse na traqueia e fosse direto para o pulmão, causando complicações graves. Então foi aí que fizemos algumas possibilidades de manejo, descritas no protocolo, e que na nossa percepção fazem toda a diferença”, afirma Barbosa.

 

Recomendação inédita

Para que o paciente não fique em jejum, foi preconizado globalmente nas UTIs o uso de medicamentos procinéticos que auxiliam o alimento a descer rapidamente até os intestinos e a oferta de dieta em vazão baixa. O protocolo recomenda que o paciente, uma hora antes de ser pronado, tenha o conteúdo fisiológico do estômago drenado por meio de sonda orogástrica (pela boca). Em seguida, quando o paciente é pronado, a dieta enteral é ligada em uma sonda nasoentérica (pelo nariz), com uma vazão baixa, recebendo também os medicamentos procinéticos. Quando o paciente volta à posição normal (supina), espera-se uma hora e depois se oferece a dieta com uma vazão mais alta, capaz de nutri-lo totalmente. Nos casos em que mesmo com esse procedimento a pessoa não tolere a dieta enteral na vazão baixa, é indicada a dieta parenteral (pela veia) para evitar que receba poucas calorias.

Os resultados começaram a ser observados pelas várias equipes no dia a dia, porque o protocolo produziu efetividade, ou seja, uma capacidade de nutrir mais efetivamente os pacientes do que as orientações anteriormente recomendadas. “O estudo tem uma importância e impacto enorme porque é original, brasileiro, da força-tarefa do Triângulo Mineiro e inédito em relação a tudo que foi publicado no mundo em relação ao paciente de Covid-19 grave”, comemora Dr. Barbosa.

Compartilhar